segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Personagens

No Memorial do Convento existe diversas e vastas personagens que formam dois grupos opostos: A aristocracia e o alto clero representam o grupo do poder, enquanto o povo e os oprimidos representam o grupo do contra-poder.

Grupo do poder


D. João V
25- Rei D. João V - O Magnânimo.jpg
Representa o absolutismo e a consequente repressão no povo miserável.
Ao desejar ser lembrado por uma obra magnificente tal como o Rei-Sol, manda construir um enorme palácio e um convento de Mafra para franciscanos, com o pretexto de cumprir a promessa que fez ao clero -influência que justifica e "santifica" o seu poder - para garantir a sucessão ao trono. E também por isso, tem o desejo de progresso e inovação, ao que protege projectos como, inicialmente, o da Passarola.




A sua obsessão pela magnanimidade é tal, que até tem como passatempo a construção da réplica da Basílica de São Pedro de Roma.

D. Maria Ana Josefa
25- Rainha D. Maria Ana.jpg

A rainha, austríaca, é tratada como um mero instrumento de produção de sangue azul do rei.

Ocupa-se obsessivamente com missas e longas novenas, tal como uma devota parideira que veio ao mundo só para isso, e julga que está grávida de Deus.

Tem sonhos com o cunhado, infante D.Francisco mas não deixa que passem disso, quando este fez-lhe uma declaração de amor durante a ausência do rei por motivos de doença. Consciente da infidelidade do seu marido, assume perante a vida uma atitude de passividade e de infelicidade.

Representa o papel da mulher da época: submissa, simples procriadora e objecto da vontade masculina. E por pertencer à casa real e por estar grávida, nem da festa da pós-Quaresma pode desfrutar, enquanto as outras mulheres comuns aproveitam o único dia de independência que têm com os seus amantes.


Grupo do contra-poder

 Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão

Bartolomeu Lourenço de Gusmão prom.jpgO padre, cuja alcunha é Voador, é marcado pelo espírito científico que o levou a ter o sonho de criar uma máquina voadora. A concretização deste sonho tornou-se uma obsessão, onde procurou com tudo o que podia, concretizar o projecto que tinha planeado. Deste crescente saber adquirido e das suas inabaláveis certezas científicas emerge um orgulho, uma grande ambição de elevar-se um dia no ar. Esta obsessão também é responsável pela formação de uma Santíssima Trindade terrena com Baltasar e Blimunda, igualmente transgressores das regras da Igreja, de modo a usufruir na construção da passarola, juntamente com os seus conhecimentos científicos, a capacidade física e o saber prático do primeiro e a magia herética da segunda.

Inicialmente o padre estava sob a protecção real, mas assim que esta terminou, foi imediatamente perseguido pela Inquisição sob a acusação de bruxaria, obrigando-o a abandonar o projecto a Baltasar e a fugir a segredo de todos para Espanha, onde acaba por morrer em Toledo.

Domenico Scarlatti


Domenico Scarlatti prom.jpgPrimeiramente professor do infante D.António, irmão de D. João V, passando depois a ser professor da infanta D. Maria Bárbara. Exerceu assim as funções de mestre-de-capela e professor da Casa Real de 1720 a 1729, durante a qual escreveu diversas peças musicais.
Embora contratado pelo rei, é também um representante de contra-poder devido à sua liberdade de espírito e pelo o seu poder libertador e subversivo da sua música. Como tal, a convite do padre Bartolomeu, é um participante do projecto da passarola, embora indirectamente, como um cúmplice silencioso.

A amizade deste com o padre Bartolomeu, originada pela compreensão e pela partilha das mesmas ideias e sonhos, representa a articulação entre a cultura e o humano, entre o saber e o sonho, entre o conhecimento e o desejo.

Baltasar


Baltasar Mateus, com alcunha hereditária de Sete-Sóis, é abandonado pelo exército durante a Guerra da Sucessão Espanhola por ter ficado inválido devido à perda da sua mão esquerda, representando a crítica da desumanidade na guerra. Deixado na miséria, consegue chegar a Lisboa, onde conhece nesse mesmo dia Blimunda e o padre Bartolomeu, num auto-de-fé no Rossio. Contava 26 anos. Imediatamente encantado pelos olhos de Blimunda no primeiro olhar, partilha desde esse momento até morrer a vida e os sonhos com ela.
Torna-se açougueiro em Lisboa, uma vez que o gancho que usa para substituir a mão lhe facilita o trabalho, e posteriormente integra-se como boieiro nas legiões de operários nas obras do convento de Mafra. Porém, a sua principal ocupação é a construção da passarola.
Esta personagem revela-se gradualmente o herói do romance. Pois, em primeiro, por ser o representante do povo oprimido, o seu percurso torna-se o foco do narrador, abatendo do primeiro plano as personagens do grupo de poder.


Blimunda


Blimunda de Jesus é uma jovem mulher do povo de dezanove anos que tem a capacidade de ver por dentro as pessoas e os objectos, durante o jejum, e de recolher as vontades, este acto não mata as pessoas mas é mais fácil ser executado nas que estão a morrer, dom este que é revelado apenas quando o padre de Bartolomeu descobre que o combustível da passarola é o éter e que este está dentro das vontades das pessoas, fazendo esta personagem também parte desse projecto.
Torna-se companheira de Baltasar em consequência da sua mãe.

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