Tempo
Tempo histórico
O romance tem como plano de fundo o início do século XVIII. Uma época marcada pelos contrastes: as práticas retrógradas e medievais, do povo e da corte, em oposição ao esforço de modernização.Tempo diegético
Na narração da obra a cronologia da acção, que sejam eventos reais ou ficcionais, data entre 1711 a 1738 (28 anos), iniciando com a apresentação do rei e terminando com o último auto-de-fé em Portugal, em que Baltasar morre.Tempo do discurso
O modo como flui a cronologia da acção é na maior parte do romance linear, utilizado por exemplo para narrar a morte do sobrinho de Baltasar e do infante D.Pedro, e a elipse, utilizada na descrição do período em que Blimunda procurou Baltasar durante 9 anos; e ainda a presença do narrador através dos seus comentários, juízos críticos, registos de língua, e referências ao século XX.Espaço
Palácio Nacional de Mafra.
Espaço físico
O cenário da obra tem dois macro-espaços:- Lisboa cujos micro-espaços são:
- Terreiro do Paço - local onde se situava o palácio do rei, é o centro do poder;
- Rossio - é o centro urbano onde tem lugar as festividades como os autos-de-fé, as procissões e as touradas;
- Abegoaria- na Quinta do Duque de Aveiro, em S.Sebastião da Pedreira, é o local onde a passarola é construída.
- Mafra:
- Vila de Mafra: é uma pequena população que sobrevive pela agricultura e que vive isolada da civilização até o rei escolher Mafra como local da construção do convento;
- Alto da Vela: é o local da construção do convento;
- Ilha da Madeira: é um aglomerado de barracões de madeira onde se localiza os alojamentos dos operários que trabalham na construção do convento;
Estrutura da Acção
A acção centra-se na construção do convento de Mafra, que funciona como eixo estruturador de toda a obra.Deste modo, na linha diegética da construção do convento, são referidos os trabalhadores de Mafra que vivem a escravidão e que são valorizados pelo narrador. Na linha diegética do amor, são confrontados dois tipos distintos de relação amorosa, um representado pelo casal Baltasar e Blimunda, o amor puro, transgressor e que se basta por si próprio; o outro é o casal artificial, constituído pelo rei e pela rainha, que são estranhos que encontram-se exclusivamente por dever real.
Narrador
- Estatuto:
- É homodiegético, com a intenção de captar a atenção do narrador que se sente participante;
- É heterodiegético, na maior parte da obra, quando narra a acção;
- Por vezes torna-se autodiegético, quando representa um pensamento (não confundir com os diálogos) de uma personagem;
Focalização:
- Omnisciente: tem um conhecimento absoluto tanto sobre as personagens, como sobre as informações dos eventos e move-se no presente, no passado e, consequentemente, no futuro. É como um Deus na narrativa, que tudo vê e tudo sabe;
- Interna: a voz plural do narrador revela-se quando é mostrado o ponto de vista de uma personagem que vive a história. Estas são as seguintes:
- Interventiva: é revelada quando o narrador tece comentários, juízos, registos de língua e marcas da contemporaneidade. Estas últimas, utilizadas com ironia, são as seguintes:
- Intertextualidade com outras obras e autores de modo a ultrapassar as barreiras do tempo:
- Padre António Vieira, com a sua oratória;
- Fernando Pessoa, com Mensagem;
- Camões, com Os Lusíadas;
Simbologia
- Passarola: é tanto o símbolo da concretização do sonho, representando assim também a libertação do espírito e a passagem a outro estado de consciência, uma vez que que esta é igualmente um símbolo da ligação do céu e da terra, pois ousa sair do domínio dos homens e entrar no domínio de Deus;
- Sete-Sóis: alcunha de Baltasar porque só pode ver à luz;
- Sete-Luas: baptismo de Blimunda porque "vê" no escuro, devido aos seus dons;
- Sol: representa a força e a própria vida, fazendo corresponder Sete-Sóis a Sete Vidas, transformando deste modo a personagem de Baltasar como representante de todo o povo. Por outro lado, o sol para nascer tem que vencer as trevas, do mesmo modo que Baltasar tem que vencer a Inquisição e a superstição popular.
- Lua: Tradicionalmente a Lua simboliza, por não ter luz própria, o princípio passivo do sol. No entanto, a obra revoluciona o conceito da Lua ao dar a Blimunda capacidades sobrenaturais que dependem das fases da lua, tornando a tão relevante como o sol. Assim é também a relação de Blimunda e Baltasar, pois têm ambos igualdade de direitos e de relevância na obra;
- Sete: este número representa a totalidade perfeita. Para além da utilização deste símbolo na expressão da completude de Baltasar e Blimunda, também é recorrido noutras situações, tal como no dia da sagração do convento.
- Nove: representa o coroamento dos esforços, o concluir de uma criação, utilizado para simbolizar os 9 anos de procura de Blimunda por Baltasar;
Carácter transgressor
- Amor de Blimunda e Baltasar, por não serem casados oficialmente e por viverem numa relação de igualdade, obtendo uma cumplicidade e uma perfeição;
- Padre Bartolomeu, por perseguir o seu sonho e acreditar na ciência, pondo em causa o poder e dogmas da Igreja;
- Passarola, ao voar ousa sair do domínio dos homens e entrar no domínio de Deus;
- Escrita literária do narrador, por não conter marcas gráficas do discurso directo
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