terça-feira, 9 de novembro de 2010

Invocação

E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mim um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mim vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloquo e corrente,
Porque de vossas águas, Febo ordene
Que não tenham inveja às de Hipoerene.

Dai-me uma fúria grande e sonorosa,
E não de agreste avena ou frauta ruda,
Mas de tuba canora e belicosa,
Que o peito acende e a cor ao gesto muda;
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no universo,
Se tão sublime preço cabe em verso.

Reflexão:
O poeta pede inspiração ás Tágides, entidades míticas nacionais, jogando a varidade das ninfas e também com o seu espírito de gratidão ao recordar-lhes que sempre as celebram na sua poesia. É significativa a valorização do estilo épico, por comparação com o estilo lírico, pois, é mais adequado á grandeza dos feitos dos heróis que vai contar.
Camões dedica a sua obra ao Rei D. Sebastião a quem louva por aquilo que ele representa para a independência de Portugal e para a dilatação do mundo cristão; louva-o ainda pela sua ilustre e cristianíssima ascendência e ainda pelo grande império de que é Rei (estrofes 6 , 7 e 8).
 Segue-se uma segunda parte que constitui o apelo dirigido ao Rei: “referindo-se com modéstia á sua obra, pede ao rei que a leia; na breve exposição que faz do assunto, o poeta evidencia que a sua obra não versava heróis e factos lendários ou fantasiosos, mas sim matéria história real (estrofes 9 a 14)
Termina o seu discurso incitando o Rei a dar continuidade aos feitos gloriosos dos portugueses, combatendo os mouros e invocando depois o pedido de que leia os seus versos (estrofes 15 a 18).

Lusíadas

Análise Canto I
O poeta indica o assunto global da obra, pede inspiração as Ninfas do Tejo e dedica o poema ao rei D. Sebastião. Na estrofe 19 inicia a narração da viagem de Vasco da gama, referindo brevemente que a armada já se encontra no Oceano Índico, no momento em que os deuses do Olimpo se reúnem, em Consílio convocado por Júpiter, para decidirem se os Portugueses deverão chegar á Índia. Apesar da oposição de Baco e graças á intervenção de Vénus e Marte, a decisão é favorável aos Portugueses que entretanto cheguem á Ilha de Moçambique. Aí, Baco prepara-lhes várias ciladas que culminam no fornecimento de um piloto por ele industriado a conduzi-los ao perigoso porto de duíloa. Vénus intervém, afastando a armada do perigo e fazendo-a retomar o caminho certo ate Mombaça. No final do Canto, o Poeta reflecte acerca dos perigos que em toda a parte espreitam o homem.
As armas e os barões assinalados
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis, que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando;
E aqueles, que por obras valerosas
Se vão da lei da morte libertando;
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram:
Cesse tudo o que a Musa antígua canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.

Reflexão:
A proposição permite ao poeta enunciar o propósito de cantar aos feitos alcançados pelos heróis portugueses, apresentando-os com heróis colectivos mistificados que se superiorizar em relação aos heróis da antiguidade clássica.
Estrutura Externa
O poema está escrito em versos decassílabos, com predomínio do decassílabo heróico (acentos pa 6ª e 10ª sílabas). É considerado o metro mais adequado á poesia épica, pelo seu ritmo grave e vigoroso. Surgem também alguns raros exemplos de decassílabo sáfico (acentos na 4ª, 8ª e 10ª sílaba).
· As estrofes são de oito versos e apresentam o seguinte esquema rimático – “abababcc” ( a este tipo estrófico costuma chamar-se oitava rima, oitava heróica ou oitava italiana)
· As estrofes estão distribuídas por 10 cantos. O número de estrofes por canto vario de 87, no canto VII, a 156 no canto X. No seu conjunto, o poema apresenta 1102 estrofes.
1. As partes constituintes
Os Lusíadas constroem-se pela sucessão de quatro fontes:
· Proposição – parte introdutória, na qual o poeta anuncia o que vai cantar (Canto I, estrofes 1-3)
· Invocação – pedido de ajuda as divindades inspiradores (A principal invocação é feita as Tágides, no canto I, estrofes 4 e 5, ás Ninfas do Tejo e do Mondego, no canto VII 78-82 e, finalmente, a Calíope, no Canto X, estrofe 8)
· Dedicatória – oferecimento do poema a uma personalidade importante. (Esta parte, facultaria, pode ter origem nas Geórgicas de Virgilio ou nos Fastos de Ovídio; não existe em nenhuma das epopeias da Antiguidade)
· Narração – parte que constitui o corpo da epopeia; a narrativa das acções levadas a cabo pelo protagonista. (Começando no Canto I, estrofe 19, só termina no Canto X, estrofe 144, apresentando apenas pequenas interrupções pontuais).
2. Os planos narrativos
Obra narrativa complexa, Os Lusíadas constroem-se através da articulação de três  planos narrativos, não deixando, ainda assim, de apresentar uma exemplar unidade de acção.
Como plano narrativo fuleral apresenta-nos a viagem de Vasco da Gama à India. Continuamente articulado a este e paralelo a ela, surge um segundo plano que diz respeito à intervenção dos deuses do Olimpo na Viagem. Encaixado no primeiro plano, tem lugar um terceiro, que é constituído pela História de Portugal, contada por Vasco da Gama ao rei de Melindo, para Paulo da Gama e por entidades dividas que vaticinam futuros feitos dos Portugueses.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Mensagem, Fernando Pessoa

À memória do presidente-Rei Sidónio Pais, A Mensagem(1934), primeiro e único livro de Fernando Pessoa publicado em sua vida.
Uma espécie de colecção de poesias em geral breves, compostas em épocas diferentes.
A composição mais antiga seria “D. Fernando, Infante de Portugal”, de 1913, a segunda parte “Mar Português”.
O livro divide-se em três partes:
- Brasão, que compreende Os Campos, Os Castelos, A Coroa, As Quinas, O Timbre, tal como desde Ulisses a D. Sebastião, ora invocados pelo poeta, ora definindo-se a si próprias como em inscrições lapidares, epigramáticas;
- Mar português, com poesias inspiradas na ânsia do Desconhecido e no esforço heróico da luta com o Mar;
- O Encoberto, que compreende Os Símbolos, Os Avisos, Os Tempos, e onde se afirma um Sebastianismo de apelo e de certeza profética.

A Poesia da mensagem é uma poesia épica, épico-lírica, não só pela forma fragmentária como pela atitude introspectiva.
Fernando Pessoa impregna de idealismo platónico a sua visão do acontecer histórico: Não é tanto um Império terreno que ele canta, mas sim a Ideia condutora, o que não existe no mundo sensível, a quimera, o mito, a fome do impossível, a loucura : “Sem a loucura que é o homem/Mais que a besta sadia,/Cadáver adiado que procria?”;
A Mensagem encerra trechos, ou versos, na memória dos Portugueses cultos, uns pela feliz aliança do sentido poético e da linguagem metafórica e musical : “Valeu a pena? Tudo vale a Pena / Se a alma não é pequena.” ou “Que o mar com fim será grego ou romano: / O Mar sem fim é português.”

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Os Planos d'Os Lusiadas

Pode indentificar-se a presença de quatro planos distintos na narrativa de "Os Lusíadas" :

- Plano da Viagem;
- Plano da História de Portugal;
- Plano dos deuses/maravilhoso;
- Plano do Poeta;


O Plano da Viagem :

Compreende todos os momentos da narração relativos á acção principal, a viagem de Vasco da Gama, desde a partida de Lisboa até ao desembarque na ilha de Vénus.

O Plano da História de Portugal :

Consiste na exposição da história de Portugal, "E também as memórias gloriosas / Daqueles Reis que foram dilatando / A Fé, o Império, e as terras viciosas".

O Plano dos Deuses:

Plano relativo á intriga dos deuses pagãos, que começa com o consílio que inicia a acção do Poema e termina na ilha de Vénus, que encerra o poema.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Fontes Da Obra

As fontes que Camões terá usado na composição de Os Lusíadas têm apaixonado várias gerações de camonianos. Julga-se ter identificado com alguma segurança o chamado Roteiro da Viagem de Vasco da Gama e a História do Descobrimento e Conquista da Índia pelos Portugueses, de Fernão Lopes de Castanheda. Mas ficam de fora as fontes que o poeta possa ter consultado para estudar os fenómenos naturais e astronómicos que refere com tanta precisão ao longo do poema.
É bem conhecida, por exemplo, a referência ao fogo-de-santelmo no Canto V – «Vi, clara-mente visto, o lume vivo/ Que a marítima gente tem por santo». É bem conhecida também, a descrição da tromba de água - «Eu o vi certamente (e não presumo/ Que a vista me enganava): levantar-se/ No ar um vaporzinho e sutil fumo» (V, 19) - e sabe-se, por comparação de conteúdos, que poderia ter sido baseada no Roteiro de Lisboa a Goa de D. João de Castro, de que devem ter corrido cópias manuscritas nos tempos de Camões. Mas é verdade que o poeta, tendo singrado os mares, pode ter usado directamente a sua experiência e observação, como, aliás, o dá repetidamente a entender.
Quando descreve alguns fenómenos astronómicos, Camões não pode, contudo, ter-se baseado apenas na sua experiência nem em leituras secundárias. «Nem me falta na vida honesto estudo», diz quase no fim do Poema, «com longa experiência misturado» (X, 154). A precisão com que fala da «grande máquina do Mundo» (X, 80) e se refere repetidamente a difíceis conceitos astronómicos indica ter-se baseado no «honesto estudo» da cosmologia da época.
Luciano Pereira da Silva (1864-1926) foi o primeiro a analisar sistematicamente as referências astronómicas do Poema. Num trabalho clássico, publicado primeiramente entre 1913 e 1915 na «Revista da Universidade de Coimbra» e depois editado em separata com o título A Astronomia de Os Lusíadas, em 1915, este professor de matemática de Coimbra mostra que «Camões tinha um conhecimento claro e seguro dos princípios fundamentais da astronomia, como ela se professava no seu tempo». E conclui que o poeta deve ter estudado as Theoricae Novae Planetarum de Jorge Purbáquio (1423-1461), obra que veio a lume em 1460 e teve larga difusão pela Europa. Em Portugal, a obra de Purbáquio chegou, nomeadamente, através de tradução e comentário que Pedro Nunes (1502-1578) fez incluir no seu Tratado da Sphera de 1537.

Renascimento, Humanismo e Classicismo

Renascimento:

Movimento cultural que se desenvolveu na Europa ao longo dos séculos XV e XVI, com reflexos nas artes, nas ciências e outros ramos de actividade humana.
Este movimento não surgiu em todos os pontos da Europa ao mesmo tempo, onde as cidades italianas foram pioneiras neste movimento intelectual.
No centro deste movimento, visa-se uma mentalidade antropocêntrica(Homem como o Centro do Universo) em vez da visão teocêntrica(Deus como centro do Universo).
O Interesse pela cultura clássica está fortemente ligado ao Renascimento, e principalmente as classes mais altas, como a nobreza e burguesia tinham um enorme interesse sobre a mesma.

Ficheiro:Jugement dernier.jpg
Humanismo:

Doutrina centrada nos interesses e valores Humanos, sobrepondo-se estes a valores religiosos ou transcendentais.
Caracteriza-se basicamente pela valorização do espírito humano, e por uma atitude crescentemente individualista e inquiridora, a par de um grande interesse pela redescoberta das obras artísticas e literárias da antiguidade clássica.
Estabeleceu-se então o Homem renascentista, que deveria ser um poeta simultaneamente.
Classicismo:

Surgiu no século XIX para designar uma tendência estética, geralmente por oposição ao barroco.
O Classicismo torna por modelos as formas, regras, e temas da arte da antiguidade greco-romana.
Arte como a imitação da natureza, simetria, equilibro, dando ênfase á exploração da mitologia.

Ficheiro:Sabine women.jpg