A obra ortónima de Pessoa passou por diferentes fases, mas envolve basicamente a procura de um certo patriotismo perdido, através de uma atitude sebastianista pessoal do Poeta. O ortónimo foi profundamente influenciado, pela religião e sociedades secretas. A poesia resultante tem um certo ar mítico, heróico e trágico. Um poeta universal, na medida em que nos foi dando, mesmo com contradições, uma visão simultaneamente múltipla e unitária da vida. Uma explicação para a criação dos três principais heterónimos, reside nas várias formas que tinha de olhar o mundo, apoiando-se no racionalismo e pensamento oriental.
O ortónimo é considerado, como simbolista e modernista pela evanescência, indefinição e insatisfação, bem como pela inovação praticada através de diversas sendas de formulação do discurso poético.
Pessoa foi marcado também pela poesia musical e subjectiva, voltada essencialmente para a metalinguagem e os temas relativos a Portugal, como o sebastianismo presente na principal obra de "Pessoa ele-mesmo", Mensagem, uma colectânea de poemas sobre os grandes personagens históricos portugueses. Este livro foi o único publicado em vida do autor.
Heterónimos de Pessoa
Álvaro de Campos
Entre todos os heterónimos, Campos foi o único a manifestar fases poéticas diferentes ao longo da sua obra. Era um engenheiro de educação inglesa e origem portuguesa.Começa a sua trajetória como um decadentista, mas logo adere ao futurismo. Após uma série de desilusões com a existência, assume uma veia niilista, expressa naquele que é considerado um dos poemas mais conhecidos e influentes da língua portuguesa, Tabacaria. É revoltado e crítico e faz a apologia da velocidade e da vida moderna, com uma linguagem livre, radical:
"
Ricardo Reis
O heterónimo Ricardo Reis é descrito como um médico que se definia como latinista e monárquico. Simboliza a herança clássica na literatura ocidental, expressa na simetria, na harmonia e num certo bucolismo, com elementos epicuristas e estóicos. O fim inexorável de todos os seres vivos é uma constante na sua obra, clássica, depurada e disciplinada. Faz uso da mitologia não-cristã.Segundo Pessoa, Reis mudou-se para o Brasil em protesto à proclamação da República em Portugal e não se sabe o ano da sua morte.
Em "O ano da morte de Ricardo Reis", José Saramago continua, numa perspectiva pessoal, o universo deste heterónimo após a morte de Fernando Pessoa, cujo ainda estabelece um diálogo com o seu heterónimo, sobrevivente ao criador.
Segue o teu Destino
Ricardo Reis,
Heterónimo de Fernando Pessoa
Análise :
“Segue o teu destino” é uma incitação à
felicidade da vida e uma renuncia ao
Conhecimento, por não acreditar na
possibilidade de o alcançar;
felicidade da vida e uma renuncia ao
Conhecimento, por não acreditar na
possibilidade de o alcançar;
O poema retrata a situação diária em que
o ser humano se questiona sobre o
significado da vida e do seu dia-a-dia;
É utilizado o didactismo,
visto que no poema parece
estar a ensinar uma lição de
vida;
estar a ensinar uma lição de
vida;
Está presente uma
consciência do sujeito poético
em que existe um destino
superior ao Homem, que faz
dele um ser manipulado
pelos Deuses;
em que existe um destino
superior ao Homem, que faz
dele um ser manipulado
pelos Deuses;
Ricardo Reis utiliza, no poema, a condição
superior dos Deuses em relação ao ser humano
para explicar o porquê das suas afirmações
dirigidas ao leitor neste caso.
para explicar o porquê das suas afirmações
dirigidas ao leitor neste caso.
Alberto Caeiro
Por sua vez, Caeiro, nascido em Lisboa, teria vivido quase toda a vida como camponês, quase, practicamente sem estudos. Teve apenas a instrução primária, apesar disso é considerado o mestre entre os heterônimos.Após a morte dos pais, permaneceu em casa com uma tia-avó, vivendo do pouco que tinha. Morreu de tuberculose. Também é conhecido como o poeta-filósofo, mas rejeitava este título e pregava uma "não-filosofia". Acreditava que os seres simplesmente são, e nada mais: irritava-se com a metafísica e qualquer tipo de simbologia para a vida.Na escrita de Pessoa que versam sobre a caracterização dos heterônimos, Pessoa, dito "ele mesmo", assim como a Álvaro de Campos, Ricardo Reis e o meio-heterônimo Bernardo Soares, conferem a Alberto Caeiro um papel quase místico enquanto poeta e pensador. A relevância destas alusões se esclarecem na explicação de Fernando Pessoa sobre o papel de Caeiro no escopo da heteronímia. Citando a atuação dos quatro elementos da astrologia sobre a personalidade dos indivíduos, Pessoa escreve:
"Uns agem sobre os homens como o fogo, que queima nele todo o acidental, e os deixa nus e reais, próprios e verídicos, e esses são os libertadores. Caeiro é dessa raça. Caeiro teve essa força."
Dos principais heterônimos de Fernando Pessoa, Caeiro foi o único a não escrever em prosa. Alegava que somente a poesia seria capaz de dar conta da realidade.
Possuía uma linguagem estética direta, concreta e simples mas, ainda assim, bastante complexa do ponto de vista reflexivo. O seu ideário resume-se no verso "Há metafísica bastante em não pensar em nada".
Se, depois de eu morrer...
"Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas --- a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus."
Sem comentários:
Enviar um comentário